Hoje, eu, Alvaro Alves, responsável pelo Construindo Amizades, o Blog do Pedreiro, sinto-me honrado e gratificado em contar à todos a história desse humilde povo que na sua simplicidade é guerreiro e trabalhador. O povo Quilombola. Especificamente os que vivem no Engenho Siqueira, na cidade pernambucana do Rio Formoso, na região da Mata Sul de Pernambuco.
História contada em três partes de uma só postagem com a mesma importância que as demais. Mas, por se tratar de em povo que merece respeito e reconhecimento, não apenas desse blog, Construindo Amizades, mas também, de todas as camadas de nossa extensa sociedade brasileira, pois sua história de vida, luta, perseverança e vitória, se mistura com a de tantos outros brasileiros que sofrem com o descaso, em sua grande maioria causados por falta de ação do poder público, dos governantes, das autoridades constituídas, que pela falta de compromisso com o social e com a camada mais pobre de nossa população, causam perdas irreparáveis, com o passar do tempo e que mesmo assim, não conseguem tirar o brilho dos olhos e nem a dignidade das almas desse povo, que são nossos irmãos, os quilombolas.
DONA MARINA, MATRIARCA DOS QUILOMBOLAS
Com sua própria história, conceito e identificação pessoal com suas raízes, Dona Marina, atualmente com seus gloriosos 78 anos de vida, mãe de 23 filhos, 13 netos e 7 bisnetos, nascida e criada na mesma comunidade quilombola, no engenho Siqueira, local em que seus antepassados refugiaram-se, essa matriarca conta e repassa seus valiosos conhecimentos de experiências vividas, à seus descendentes, e à outros, mesmo de fora da comunidade com a genuína simplicidade de uma autêntica quilombola.
Ela, trás em seu rosto as marcas de sua experiência, sabedoria e humildade, bem como, a alegria expressada à cada momento de nossas visitas à sua comunidade. Dona de uma incomum paciência excepcional em sua trajetória de luta, tem nos mostrado cada cantinho de onde lhe é possível avistar, à partir de sua humilde casinha, que fica numa posição privilegiada dentro de sua comunidade, como por exemplo: a casa de farinha, o pequeno riacho de onde ela e sua parentela lavava suas roupas em tempos idos, conforme pode ser conferido na primeira publicação dessa série (confira aqui).
Como uma legítima quilombola ela tem usado todo espaço em volta à sua casa para cultivar em seu jardim plantas comestíveis e medicinais. Local, por sinal, até os dias de hoje, cuidado por suas próprias mãos, orgulhosamente, contando atualmente com seus 78 anos bem vividos de maravilhosa lucides.
Armado com a curiosidade natural que todo blogueiro, verdadeiramente independente tem, consultei qual seria seu maior sonho, e Dona Marina, serena e humildemente disse que “sonha de um dia ver sua comunidade devidamente iluminada e com acesso coberto com piche” ou seja, seu maior sonho é ter acesso facilitado com asfalto e iluminação para todos os que moram e visitam ou visitarem sua comunidade para que possam ter comodidade, sem as dificuldades que ainda hoje tem, donde se aponta o descaso do poder público, conforme tratei nessa e nas demais outras publicações sobre essa série.
O acesso à comunidade ainda é de chão batido, que em tempos chuvosos causa transtornos com os buracos frequentes, lama e curvas sinuosas, que são complicadores para a visita ou saída daquele local em períodos tais.
Dona Marina, com visíveis saudades em seus olhar, nos falou de nomes como Amaro Ferreira de Paula, nome este atribuído à nova sede, ainda em construção na comunidade, Benedito Amaro Correa, Iraci de Paula Silva, João Correa da Silva, conhecido pescador, Josefa do Carmo de Santana, que era conhecida como a curandeira quilombola, Lenira Ferreira da Rocha, Maria Francisca de Paula, Samuel Ferreira da Silva, Severino Ferreira de Paula, Maria de Lourdes da Silva, Heleno Antonio Rodrigues, que era tido como professor que ensinava os segredos das plantas medicinais à seus descendentes, pessoas essas que não estão mais presentes entre nós, mas deixaram sua marca e contribuição no tempo e na história desse povo, com valiosos ensinamentos que estão sendo passados de geração à geração, com o esforço dos que ainda fazem a comunidade viver.
A Comunidade do Engenho Siqueira é uma das 2040, segundo a Fundação Cultural de Palmares, levantamento feito à partir do ano de 2013, certificando que estão presentes às cinco regiões de nosso país, com maior concentração nos estados do Maranhão, Bahia, Minas Gerais, Paraná e Pernambuco.
Falar desses nobres irmãos que tem trabalhado e contribuído para a manutenção da história desse povo, que faz parte de um Brasil que ainda precisa ser explorado, comentado, compartilhado e visitado, para mim, que o faço à partir das páginas desse blog, tem sido motivo de verdadeiro orgulho.
Abaixo você pode conferir um pequeno vídeo com imagens exclusivas de Dona Marina, a matriarca quilombola, da cidade do Rio Formoso, situados no engenho Siqueira, tendo ainda a participação de nosso amigo Moacir (confira aqui) que nos abriu as portas da comunidade, dois dos lutadores pela cultura do Quilombo na Mata Sul de Pernambuco.